Missionário R. R. Soares visita as sedes da IIGD no ABC Paulista
17/10/2025
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Brasil: Potência missionária do século 21

Por Carlos Fernandes, do Ongrace

Desde 2009 em Madagascar, o agrônomo Luis Fernando Basso (à direita) desenvolve um projeto para aprimorar a produtividade dos agricultores locais – Imagem: Arquivo pessoal

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Apontado como potência da obra missionária, o Brasil se destaca na evangelização mundial. Segundo notícia veiculada pela CBN News, a Igreja cristã brasileira ocupa o segundo lugar no envio de missionários em todo o mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos quando o assunto são as missões transculturais — realizadas em destinos com língua, culturas e organização social diferentes das do país de origem do missionário. Outras nações que se sobressaem nesse cenário são: França, Espanha, Itália e Coreia do Sul.

Esse crescimento da participação brasileira no cumprimento do Ide de Jesus ocorre de várias formas, desde o modelo tradicional de envio por uma igreja ou organização missionária, que se responsabiliza pelo sustento de seus obreiros no campo, até o perfil mais contemporâneo de missionário, que alia sua profissão ao trabalho cristão. Em ambos os casos, a maior parte desse segmento é formada por jovens, geralmente mais motivados para esse chamado e com menos impedimentos, por estarem no início da vida profissional.

“O fato de o Brasil ser hoje o segundo país que mais envia missionários ao mundo não é um acaso, mas fruto de uma trajetória espiritual e cultural muito particular, marcada por ondas de avivamento desde as décadas de 1960 e 1970”, observa o pastor e missionário Homero Aziz. “Há um desejo ardente de compartilhar o Evangelho, primeiro em terras brasileiras e, em seguida, além das fronteiras.” Em sua avaliação, o comportamento do brasileiro tem favorecido esse processo: “Nossa identidade cultural, marcada pela hospitalidade, capacidade de adaptação e facilidade de relacionamento, fez dos missionários brasileiros pontes naturais em contextos diversos, especialmente nos países do Sul Global.”

Homero Aziz acredita que o destaque brasileiro na obra missionária é fruto de ondas de avivamento da Igreja: “Há um desejo ardente de compartilhar o Evangelho” – Imagem: Arquivo pessoal

O chamado que transforma vidas

Homero é um missionário experiente que iniciou sua vocação aos 18 anos. Após servir em mais de 50 nações, hoje, aos 39 anos, está na Jordânia e pastoreia igrejas que seu ministério plantou ali, na Turquia e no Iraque. “Lideramos uma organização social que atua com refugiados e uma empresa com fins missionais, que engloba uma série de atividades e equipes de campo”, acrescenta. O pregador não tem dúvidas: “O Brasil, que outrora foi campo missionário, transformou-se em celeiro missionário, enviando homens e mulheres que entendem que a Grande Comissão não é terceirizada, e sim responsabilidade de todo discípulo de Jesus e da Igreja brasileira.”

Um dos missionários ligados ao seu ministério é Hael Couto, 37 anos, que também enfrentou o desafio de, ainda jovem, lançar-se ao campo. “Em 2009, comecei a minha formação na agência de preparo transcultural Cairós. Em 2011, deixei o Brasil”, recorda-se. O servo de Cristo relata que, apesar das incertezas sobre seu chamado, manteve o foco no ministério.

Hael atua no Oriente Médio, dedicando-se a projetos sociais, à formação de obreiros nativos, ao fortalecimento da Igreja local e ao cuidado com pessoas. “Vivo em um contexto islâmico, marcado por perseguição religiosa e grandes desafios na formação de líderes e no alcance de vidas para Cristo”, explica. Há sete anos no seu atual campo, Hael afirma que só deixará a região se for da vontade de Deus: “O Senhor me chamou para permanecer a longo prazo.”

Hael Couto, entre crianças da escolinha de futebol no Oriente Médio: “O Senhor me chamou para permanecer aqui” – Imagem: Arquivo pessoal

Impacto além das palavras

Para o coordenador da Executiva do Movimento de Lausanne no Brasil, Pr. Fernando Costa, a mudança na compreensão da missão cultural tem favorecido essa arrancada missionária brasileira: “Hoje, o perfil desse jovem que se disponibiliza para a obra é o de alguém que já possui formação acadêmica e associa essa experiência ao preparo teológico e missiológico”. Dentro desse universo, multiplicam-se as possibilidades. “O missionário pode servir em diferentes áreas, como tecnologia, governo, bioética, discipulado digital, artes, mídia, empreendedorismo e várias outras. A formação missionária se ampliou, o que é excelente, porque mais pessoas podem servir ao Senhor com seus dons, sem precisar mudar de área.”

“O que tem caracterizado essa nova geração de missionários transculturais brasileiros é justamente a diversidade de formações e habilidades”, concorda o teólogo e Pr. Paulo Feniman, presidente da Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) e da Cooperação Missionária Ibero-Americana (Comibam). “Trata-se de uma preparação muito mais ampla e adaptada à tecnologia e às novas ferramentas disponíveis, o que tem contribuído bastante.” Com larga experiência missionária pessoal, Feniman aponta vantagens da nova geração de obreiros: “Eles possuem características próprias, como a facilidade de relacionamento intercultural ou multicultural, favorecida pelo fato de o mundo ter se tornado menor com a internet e a globalização.”

O estudioso, contudo, tem uma leitura diferente a respeito da informação de que o Brasil ocupa o segundo lugar mundial no envio de missionários. “Os números apresentados por aquele estudo incluem missionários católicos e de outras linhas teológicas, não necessariamente evangélicos”, aponta. “ No entanto, temos visto, ao longo dos anos, um crescimento no envio missionário a partir da Igreja brasileira e estamos entre os cinco maiores nesse quesito.”

O engenheiro agrônomo paranaense Luis Fernando Basso representa bem o novo perfil de missionário do século 21, cuja vocação espiritual caminha lado a lado com a prática profissional. Ele vive com a mulher e os três filhos em Madagascar, onde implantou o projeto Farming Gods Way (em português: Agricultura à maneira de Deus), ensinando agricultores locais a aprimorar o plantio e aumentar a produtividade.

Atualmente, a família trabalha entre o povo Atandjui, no Sul da ilha africana. A principal atividade é um projeto de evangelização, socialização e prática esportiva que acontece todas as quartas-feiras e aos sábados, com a participação de mais de mil crianças. “Minha esposa coordena também uma escola local com 230 crianças, chamada Ixanandju, que, na língua bara, significa Todos os dias — porque há alimentação, ensino e Jesus todos os dias. Ali, elas aprendem a ler e escrever na própria língua, com professores locais treinados por nós.”

Mãos que ajudam, corações que servem

A família está no campo desde 2009. Luis Basso conheceu Jesus ainda jovem e sempre  desejou anunciar Cristo. “Trabalhei por nove anos em uma empresa de agrotóxicos. Tinha uma carreira estável, vida confortável e tudo o que o mundo valoriza, mas não consegui resistir ao chamado de Deus para ser missionário”, testemunha. A maior dificuldade inicial foi conseguir apoio. “Poucas igrejas acreditavam no nosso chamado, talvez porque éramos jovens. Muitos não viam nossa decisão como algo sério, e sim como um impulso de juventude.” A solução foi demonstrar o contrário. “Fui para o seminário e estudei Missiologia, Teologia, Linguística, Antropologia e Educação Bilíngue.” Luis Fernando Basso acredita que um dos obstáculos encontrados pelos jovens é a falta de compreensão, dentro da própria Igreja, do chamado missionário. “O Brasil ainda está aquém do seu potencial missionário. Existem barreiras nos púlpitos e entre líderes que precisam ser quebradas em Nome de Jesus, para que os jovens possam responder ao chamado de Deus.” Atento às possibilidades evangelísticas da tecnologia, o ministério de Basso tem produzido materiais audiovisuais para redes sociais e projetores usados nas vilas — desde testemunhos curtos e vídeos no formato reels até traduções de produções cristãs, como o filme Jesus. “Já visitamos mais de 500 vilas nas regiões montanhosas entre o povo Bara, Atandjui e Mahafali — e até outros povos que acabam  sendo alcançados também.”

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