
O futuro começa em casa
19/08/2025Por Carlos Fernandes, do Ongrace

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As redes sociais se tornaram parte inseparável do cotidiano moderno, mas, para as crianças, esse universo virtual pode esconder armadilhas perigosas. Em um período de vida marcado pela formação de valores e habilidades essenciais, a exposição precoce a conteúdos inadequados e influências negativas podem deixar marcas profundas.
Recentemente, o tema ganhou vulto e acirrados debates na internet após o influenciador Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, denunciar perfis digitais que produziam conteúdos inadequados utilizando crianças e adolescentes. No vídeo, intitulado Adultização, o influencer alertava pais e profissionais sobre os cuidados com a web, em especial com as redes sociais. O assunto, que se tornou pauta de várias matérias na TV e em jornais de grande circulação, preocupa famílias, educadores, profissionais de saúde mental e especialistas em comunicação, os quais, há mais de uma década, sinalizam para os perigos do avanço da modernidade digital sem monitoramento. Para os estudiosos, é inevitável que crianças e adolescentes vivam inseridos nesse contexto, mas também é fato que a supervisão e as restrições são extremamente necessárias para reduzir o risco excessos.
Um estudo global divulgado este ano pelo Pew Research Center, organização independente de pesquisas, aponta que 48% das crianças e dos adolescentes, com idades de 10 a 17 anos, admitem que as redes sociais prejudicam a saúde mental deles. “Posso dizer que, a cada dez adolescentes, no mínimo sete ou oito têm ansiedade ou passam por crises de ansiedade”, alerta a pedagoga Jessica Elias de Azevedo Souza, líder dos adolescentes na sede da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Campinas (SP). “Essa geração está sendo muito impactada. Noto que o uso antecipado do celular tem trazido sérios problemas para a saúde emocional deles”, observa a especialista, acrescentando que a rapidez na divulgação das informações desencadeia transtornos na capacidade de atenção, concentração e até no sono da garotada. “Os jogos on-line e os vídeos curtos – que se sucedem a todo momento – estimulam os jovens usuários a buscar sempre as coisas mais rápidas”, afirma Jessica, a qual pondera que se trata de uma carga informacional intensa para indivíduos tão novos.

As maiores preocupações dos estudiosos residem no isolamento social provocado pelas ferramentas digitais e na exposição a conteúdos inadequados às diferentes faixas etárias. O tema é tão sério que tem levado à adoção de políticas públicas de enfrentamento e conscientização acerca dessa realidade. Uma das medidas de maior impacto foi a recente proibição ao uso de smartphones no ambiente escolar. Considerado polêmico e “censurador” no início, a lei se revelou positiva para o aprendizado, ampliou o convívio social dos estudantes e, hoje, conta com a aprovação de 85% da população brasileira, segundo levantamento realizado pela Nexus Pesquisas.
Em março deste ano, o governo federal lançou o manual Crianças, Adolescentes e Telas – Guia sobre usos de dispositivos digitais, cujo objetivo é conscientizar a população acerca de práticas para proteção e garantia dos direitos dos menores na internet. Em linguagem acessível e fartamente ilustrado, o livreto, que pode ser baixado gratuitamente, foi elaborado por um grupo de trabalho que reuniu especialistas de diversas áreas ligadas à Educação, aos Direitos Humanos e à Psicologia, além de segmentos da sociedade civil.